Divergente

“Aqueles que culparam a agressão formaram a Amizade. Aqueles que culparam a ignorância se tornaram Erudição. Aqueles que culparam a hipocrisia criaram a Franqueza. Aqueles que culparam o egoísmo fizeram a Abnegação. E aqueles que culparam a covardia formaram a Audácia”

Será que se eu contar que todo mundo morre no final seria dar um spoiler muito grande? Bom… vamos falar hoje de uma das distopias recentes que mais me agradaram, vamos falar do primeiro livro da trilogia (e essa moda besta de fazer tudo em forma de trilogias hein?) Divergente.

O livro da autora Veronica Roth (americana, nascida em Chigado no dia 19 de agosto de 1988) foi lançado no Brasil pela Editora Rocco e conta com 504 páginas de fácil e rápida leitura. Conta a história de um futuro distópico, onde a humanidade está divida em cinco castas ou facções: Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição. Nesse universo, não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível, ser nada.

“Sem facção, nós não temos propósito e nem razão para viver”

Nesse futuro, iniciamos a história acompanhando Beatrice, nativa da facção Abnegação, que se aproxima do momento em que irá participar do teste de aptidão que lhe dirá em qual facção ela se enquadra. Aos 16 anos, todo jovem deve realizar esse teste e Beatrice acaba por descobrir que não se enquadra em nenhuma das facções, e pior, é Divergente. Por fim ela opta por seguir o caminho do destemor e participar da iniciação da facção do Audazes.

A história base não traz muita novidade, é verdade, nem tampouco a forma como é contada; mas, porém, contudo, todavia entretanto, Divergente consegue lidar com coisas cotidianas como a adequação ao meio, conflitos políticos, medo, conflitos familiares, auto-conhecimento e pressão de grupo de forma excelente.  O grande foco do primeiro livro é Beatrice, seus medos e anseios.

“Na mesa da Abnegação, nos sentamos em silêncio e esperamos. Os costumes da facção determinam comportamento silencioso e supressão das preferências individuais. Não acredito que todos os Eruditos queiram estudar todo o tempo, ou que cada um dos Sinceros goste de debates acalorados, mas eles não podem desafiar as regras de suas facções mais do que eu posso”

As facções são uma ideia interessante. Durante a leitura percebemos que os antepassados dos habitantes dessa nova Chicago decidiram dividir as pessoas conforme suas principais qualidades, mas isso não foi à toa ou pelo simples prazer da coisa em si. Percebe-se que alguma coisa grave aconteceu que fragmentou toda a sociedade, uma guerra, e como resultado temos essa sociedade que, é óbvio, tem de tudo para dar errado, afinal de contas não somos nossa maior qualidade, assim como não somos nosso maior defeito. Não somos nosso maior pecado, assim como não somos nossa maior virtude. E essa é na minha opinião a melhor e maior discussão apresentada em Divergente.

A política do livro é algo que ficou em segundo plano (de certa forma), mas que está presente em toda a história, dando um clima de tensão e deixando claro que em algum momento, algo grande  e ruim vai acontecer. Há um momento que me deixou muito curioso: Qual a razão da facção dos Audazes (se fosse chamada de Destemor seria tão mais legal) trancar as muralhas da cidade e os acessos para os campos da Amizade pelo lado de fora? A gente passa por essa situação e ela é simplesmente esquecida (oooou não?).

O controle que essa sociedade exerce sobre os seus também é impressionante, não chega a ser algo como 1984, mas, em minha singela opinião, alcança Admirável Mundo Novo.

“”Cada facção conduz seus membros para pensar e agir de certa forma. E a maioria das pessoas faz isso. Para a maioria, não é difícil de aprender, de encontrar um padrão de pensamento que funcione e continue assim.” Ela toca meu ombro lesionado e sorri. “Mas nossas mentes se movem em uma dúzia de direções. Não podemos ser confinados a uma só maneira de pensar e isso apavora os líderes. O que significa que não podemos ser controlados. E isso significa que não importa o que eles façam, nós sempre causaremos problemas para eles.”
Sinto como respirar novos ares. Eu não sou Abnegação. Não sou Audácia. Eu sou Divergente. E eu não posso ser controlada.”

A ação do livro me agradou muito e está muito bem dosada durante toda a história; aliás, eu achei tudo muito bem dosado: o humor, o drama, a ação e até mesmo os momentos de romance mulherzinha, foi tudo no ponto. Talvez pelo fato de o livro parecer ter sido escrito pronto para o cinema, o que não me incomoda (muito). Acho que isso é algo relacionado ao tempo em que vivemos.

“Quando eu olho para o estilo de vida da Abnegação como alguém de fora, eu acho que é lindo. Quando eu assisto minha família mover-se em harmonia; quando nós vamos a jantares festivos e depois todo mundo limpa junto sem ter que ser pedido; quando eu vejo Caleb ajudar estranhos a carregar compras. Eu me apaixono por essa vida novamente. É só quando eu tento viver esse vida que tenho problemas. Isso nunca parece genuíno.”

Falemos então do que existe de ruim nesta obra fantástica. Algumas poucas coisas me incomodaram, e uma delas foi a divergência em si. Essa questão foi apresentada como sendo algo MUITO importante (digamos… É O NOME DO LIVRO!!!!!!), mas com o decorrer da história a impressão que dá é que isso é só uma desculpa ou algo assim, e volta e meia a gente precisa ficar sendo lembrado “Ó, ela é divergente hein, não esquece, você não sabe o que isso significa, mas ela é divergente e isso é importante!” e no momento em que a divergência se faz importante, ela é meio que natural para mim.

Outro ponto negativo foi a má utilização da vilã-mor, que me pareceu ter muito mais potencial do que foi mostrado e até creio que foi por isso que a solução final para a nova Guerra me soou tão Deus Ex Machina, mesmo a história do soro estar inserida em todo o livro e em todo o contexto da realidade local. Existiram outras coisinhas menores, que como disse, são menores e não me apeguei a elas.

“Abnegação e Audácia estão destruídas, seus membros dispersos. Nós somos como as pessoas sem facção agora. Eu não sei como a vida será daqui para frente, sem facção – parece algo solto, como uma folha separada de uma árvore que dava sustentação. Nós somos criaturas perdidas, nós deixamos tudo para trás. Não temos casa, não temos um caminho pela qual seguir. Eu não sou mais Tris, a altruísta, ou Tris, a corajosa. Eu acho que agora, devo me tornar mais do que ambos.”

O fim do livro é muito bom e mostra como ele foi claramente planejado para continuações. No momento que escrevo isso a adaptação cinematográfica ainda não estreou e eu só tive o desprazer de ver um cartaz (que eu achei EXTREMAMENTE BROXANTE) e um trailer que me deu boas esperanças de que essa adaptação possa ser realmente boa, ao contrário daquela adaptaçãozinha xexelenta de Jogos Vorazes (PODEM ME JULGAR!). Espero que possa me empolgar com o filme, quando ele sair, assim como me empolguei com o livro.

De um modo geral, gostei muito do livro, muito mesmo. Achei uma literatura bem leve e divertida, de leitura rápida, dá para ler tudo em umas 8 horas sossegadamente.

E para finalizar, Divergente leva 8.0 destemidas ampolas do soro do super soldado divergente.

Leonardo Agrelos
Se acha um host, mas não sabe houstear. Se acha um podcaster, mas tem a linguá presa. Se acha um nerd, mas nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis. Se acha um escritor, mas sempre procura no Google como se escreve impeachment. Entre tantos achismos uma certeza, a de que tem que melhorar como pessoa para parecer menos com um babaca.
http://pupilasembrasas.com.br
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