Click – A Ilusória Jornada de Todo “Eu”.

Meu filme preferido é daqueles que a gente cora de vergonha para revelar: Click, com o amado pelo público e odiado pela crítica, Adam Sandler. A trama gira em torno da família de Michael Newman, um arquiteto com o sonho americano latente no coração e que, para concretizá-lo, estará disposto a sacrificar tudo o que for possível por causa da família, inclusive, a família. Irônico, mas “real”.Click

Quando perde o controle remoto da sua televisão, Michael Newman – movido por um espírito de rivalidade boba e ególatra com os vizinhos – decide comprar um novo controle, só que agora com função universal, ou seja, que funcione para todos os aparelhos eletrônicos da sua casa, exatamente como o dispositivo dos “O’Doyle”. Newman vai até a loja “Banho, Cama e Além” e lá conhece um sujeito estranho chamado Morty, que promete um aparelho revolucionário para mudar a vida do jovem arquiteto. Logo ele descobre que o controle pode servir para situações simples como abafar os latidos chatos de seu cachorro e para outras complexas como avançar grandes períodos de sua vida.

Com a promessa de se tornar sócio de uma grande empresa de empreendimentos imobiliários, Newman precisa vender o projeto de um hotel para um grupo de orientais um tanto quanto excêntricos, o que consegue graças às facilidades de seu novo melhor amigo, o controle remoto universal. A partir de então, seu diretor deveria fazê-lo sócio, mas não é o que acontece, pois o diretor pede ainda ao arquiteto para concluir todo o projeto antes de promovê-lo. É aqui que entra o desespero: após comprar bicicletas novas para seus filhos e prometê-los um novo mundo de felicidades materiais, Newman precisa devolvê-las, pois comemorou vitória antes do tempo e não foi efetivado sócio como houvera pensado.

Com o coração dilacerado pela dor de ter que tirar os presentes dados aos próprios filhos, Newman avança o controle até o dia da sua promoção. Um mês? Dois meses? Não, um ano! Vê-se, então, com o casamento posto em perigo e os filhos apresentando traços de rebeldia pela ausência do pai, ou presença “robótica”, contudo, sua vida profissional passa à tão sonhada nova fase de sócio. Então o controle perde o controle. Ele define que, quando há conflito família x trabalho, Newman escolhe trabalho. E desta maneira absurda o jovem arquiteto vai vendo sua vida profissional subir às alturas enquanto sua vida familiar é totalmente destruída. Torna-se velho, cansado, solitário e, quando morre, suas últimas palavras para seu filho, que adiara a Lua de mel para cuidar dos negócios da família, são: “Família em primeiro lugar, família, família…”.

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Já diria um amigo teólogo: “Se você não cuidar de sua família, o mundo tratará de cuidar”. A tragédia de nosso tempo não é que não tenhamos tempo. Tempo temos. A tragédia é o que fazemos dele. A tragédia é que temos doado toda a nossa energia para o trabalho ou para o que nos trará retorno financeiro. Relegamos a um segundo plano não só a família, mas principalmente o estudo das Escrituras. A relação com Deus. A comunhão com a igreja. O que sobra, o resto, é para a família, é para Deus, é para a igreja. Temos apontado as heresias destruidoras da Teologia da Prosperidade, mas e quanto a nossos planos? São todos para conquistas pessoais. Quando surge o conflito: trabalho x família, trabalho x Deus, quem vence? Nosso controle avança sozinho? Newman teve ainda uma segunda chance. Não desperdice a sua única. Não por você, mas por quem conta com você.

“Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa?
Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?
Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?
“Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem.
Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles.
Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé?
Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’
Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.

Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal”.

Mateus 6:25-34

Leonardo Agrelos
Se acha um host, mas não sabe houstear. Se acha um podcaster, mas tem a linguá presa. Se acha um nerd, mas nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis. Se acha um escritor, mas sempre procura no Google como se escreve impeachment. Entre tantos achismos uma certeza, a de que tem que melhorar como pessoa para parecer menos com um babaca.
http://pupilasembrasas.com.br
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