Cinegoga#2 – Horton e o Mundo dos Quem: Entre o Imaginário e o Factual

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Horton é um elefante cheio de imaginação que mora na fictícia floresta de Nool. Certo dia ele ouve um ruído vindo de um grão de poeira, que voava perto de seus ouvidos. A princípio, o elefante pensa na possibilidade de haver pessoas pequeninas dentro do grão, tentando chamar sua atenção. Ele sussurra, fala, grita até que consegue se comunicar com o prefeito da cidade de Quemlândia, que está alojada dentro do grão de poeira. A cidade está prestes a ser destruída, e só o prefeito acredita nisso.

Horton precisa provar que é real e pode ajudá-los a evitar a iminente destruição de Quemlândia, além de tentar convencer os outros animais da floresta que ele não é louco. Enquanto isso, o prefeito precisa alertar a população do perigo, o que se torna ainda mais difícil após ele dizer que existe um elefante no céu que quer ajudá-los. A história então se desenvolve com o elefante partindo em busca de um local seguro para alojar o grão e manter todos a salvo, mesmo que para isso ele tenha que cair no desagrado da Canguru, a chefe dos animais da floresta, que acredita que ele está envenenando a mente das crianças com essa história maluca. Essa é a narrativa do filme de animação “Horton e o Mundo dos Quem”.

Você já se encontrou em uma situação onde a sua palavra estava em jogo? Seu testemunho foi descartado facilmente, pois alguém tinha argumentos lógicos que te desmentiam, apesar de que os argumentos dela nem eram tão críveis assim? As pessoas costumam colocar lógica e imaginação em lados separados, já notou isso? E essa não é necessariamente uma regra. Pelo contrário, as vezes pode ser um problema.

Ao mesmo tempo em que hoje a cultura propaga cada vez mais histórias fantasiosas e fictícias para o entretenimento, a fé apenas em fatos concretos ainda parece tomar parte na cabeça das pessoas. Da mesma forma como a Canguru condenava o Horton por incentivar as crianças da floresta a usarem a imaginação, parece que a sociedade tem descartado a habilidade da imaginação e confiado demais em testemunhos mais factuais.

E é justamente essa fé cega em evidências, que muitas vezes pode se mostrar equivocada. Isso pode ser facilmente observado nas redes sociais. Alguém posta alguma notícia, ou foto, ou um suposto estudo de alguma universidade, ou ainda cita determinada autoridade para validar o assunto, e mesmo sem checar os fatos, as pessoas acreditam facilmente. Esse parece ser o dilema de Horton. Todos os animais da floresta acreditam na Canguru, mesmo sem checar a veracidade do discurso dela.

A imaginação é importante, pois ela ajuda a mente a desenvolver a capacidade de abstração, de ir além daquilo que está visível. E dentro dessa nossa proposta de sermos mais críticos naquilo que assistimos, lemos ou ouvimos, a imaginação é uma ferramenta tremenda. Quando deixamos nossa mente aceitar apenas o que já está pronto, perdemos a habilidade de construir nosso próprio pensamento, e assim, nos tornamos escravos do pensamento do outro, seja este um noticiário, uma aula e também nosso entretenimento.

Cinegoga

Leonardo Agrelos
Se acha um host, mas não sabe houstear. Se acha um podcaster, mas tem a linguá presa. Se acha um nerd, mas nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis. Se acha um escritor, mas sempre procura no Google como se escreve impeachment. Entre tantos achismos uma certeza, a de que tem que melhorar como pessoa para parecer menos com um babaca.
http://pupilasembrasas.com.br
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