[GAMES] Critica: The Witcher 3: Wild Hunt

The Witcher 3: Wild Hunt foi um dos games mais premiados e de sucesso rápido nesse ano de 2015. Ao finalizar sua longa campanha me senti na obrigação de escrever uma crítica a seu respeito. Mas antes vamos entender de onde veio essa franquia.

“Pessoas gostam de inventar monstros e monstruosidades. Então elas mesmas parecem menos monstruosas. Quando se enbebedam ao ponto de enganar, roubar, bater nas esposas, matar de fome uma velha senhora, quando matam à machadadas uma raposa presa à uma armadilha ou o úlitmo unicórnio existente com flechas, ele preferem pensar que um monstro invadindo uma cabana a nascer do sol é mais monstruoso que eles são. Assim se sentem melhor. Acham mais fácil viver.”

SAPKOWSKI, Andrzej – O Último Desejo

Quando me deparei com esse trecho, dentro de um livro de fantasia medieval polonês, quase cai pra trás de surpresa. O interlocutor é Geralt de Rivia, um Witcher, ou como ficou traduzido em português Bruxo. Um Witcher é um caçador de monstros profissional, necessário em um mundo que acabou sendo povado por criaturas fantásticas de diversas naturezas devido a um fenômeno chamado de conjunção das esferas, que mesclou características e habitantes de mundos diferentes. Para essa árdua tarefa um Witcher passar, ainda criança, por um doloroso processo de mutação, ao qual poucos sobrevivem. Geralt é o protagonista deste livro, do polonês Andrzej Sapkowski, bem como dos demais livros da saga, que somam mais de sete na Polônia, com os sete traduzidos para o inglês, e cinco (até o momento dessa publicação) em português (pela editora Martins Fontes).

Sendo um grande sucesso em seu país natal durante as publicações na década de 90, logo a Saga de Geralt ganhou adaptações e outras histórias derivadas.

Em 2007 uma produtora de games também polonesa teve a brilhante idéia de adaptar as histórias do Bruxo para um game para PC. Porém seria muito difícil adaptar os arcos já fechados no livros. Para resolver isso a CD Project Red escreveu uma sequência para a história que havia sido fechada nos livros. Mesmo sendo o primeiro game da CD Project, The Witcher foi um sucesso de crítica. Com isso veio a aguardada continuação em 2009, The Witcher 2: Assassin of Kings, e foi tão aclamado quanto o primeiro. Mesmo assim os dois games não conseguiram gerar uma grande base de fãs. Isso mudou um pouco de figura esse ano com o lançamento de The Witcher 3: Wild Hunt.

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Com o terceiro game, a CD Project Red conseguiu chamar a atenção dos gamers, mesmo os que não tinham jogado os dois primeiros jogos por completo. Esse foi o meu caso. Joguei umas 20 horas do primeiro e muito menos do segundo. Na época a história havia realmente chamado minha atenção, mas a jogabilidade estava atrapalhando um pouco a diversão, e talvez por isso tenha deixado pra lá. Isso mudou de figura quando entrei no Hype Train do terceiro game. Assisti alguns gameplays e constatei que ali estava um game digno de ser jogado por completo. E não me decepcionei com isso.

Wind Hunt é um exemplar do que chamamos hoje de RPG Ocidental. Diferente de sua forma oriental (Final Fantasy, Persona, Dragon Quest, etc…) os RPGs ocidentais (Fallout, Elder Scrolls, Dragon Age, etc…) têm uma estrutura mais fluida, trabalham quase todos em um mundo aberto com quase infinitas possibilidades, são organizados por quests, da história principal e secundárias, e acima de tudo: Não contam com batalhas por turnos e encontros aleatórios. Nisso tudo The Witcher 3 se destaca com brilho! Tem um mapa gigante, inúmeras side-quests que não são simples, vá matar um monstro, ou buscar um ítem ou algo assim, as side-quests são bem pensadas, quase todas têm histórias ricas por trás. Isso ajuda muito em fazer o jogador ficar imerso naquele mundo. Isso é muito facilitado, pois mesmo que você não fale inglês poderá jogar com dublagem ou legendas em português do Brasil. Tudo isso faz com que aconteça um fenômeno em que você começa a jogar e daqui a pouco olha no relógio e já se passaram três horas… E para você tinham sido só uns cinco minutos.

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Quanto à história só posso dizer que é impossível você não querer saber cada vez mais sobre aquele mundo, os personagens e o que aconteceu para chegar àquele ponto. É claro que para aqueles que não leram os livros e não jogaram os primeiros games não será tão fácil, mas nada que o bom e velho Youtube não resolva. Basta uma pequena busca e você verá diversos vídeos explicando a história até aquele momento. Mas basicamente, primeiro houveram os 7 livros contando uma grande história sobre o Witcher Geralt, a feiticeira Yennefer, seu grande amor, e Ciri. Ciri já é uma história uma pouco mais complicada. Pode parecer que ela tenha algum parentesco com Geralt (visto o cabelo e a cicatriz, que são praticamente identicas) mas o único vículo é emocional. Geralt vê Ciri como uma filha, e foi responsável por boa parte de sua criação. Ao final dos livros, ocorre um grande evento que deixa Geralt sem suas memórias, que são recuperadas ao longo do primeiro e segundo game, ao ponto que no terceiro game, Geralt já tem sua memória recuperada. Com isso tudo só é seguro dizer que a trama do terceiro game gira em torno da busca de Geralt por Yennefer e acima de tudo por Ciri, pois ela está sendo caçada pela entidade mística que dá nome ao jogo, a Wild Hunt, que é um exército implacável que traz o frio consigo.

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Outro ponto positivo são os personagens. Tanto Geralt quanto os seus coadjuvantes e até personagens que pouco aparecem ou influem na história, todos tem uma personalidade bem definida, motivações, falhas. Até nos camponeses você nota uma certa profundidade. A maior parte do jogo se passa em uma área do mapa que foi palco de uma guerra, e isso se faz notar claramente nos NPC’s que você se depara. A todo momento você vê vilas destruídas, campos de batalha cheios de feridos e corpos, que atream monstros necrófagos. Nesse momento você também tem suas escolhas, pois em vários momentos pode ajudar os camponeses a se reerguer ou pode simplesmente ir adiante. Quanto à dinamica do personagem principal, eu pessoalmente prefiro games que te dão um personagem já definido, como Witcher com Geralt e Mass Effect com Sheppard, ao invés de exigir que você crie um personagem genérico, como Dragon Age Inquisition e os games da franquia Souls. Prefiro dessa forma pois assim você tem um personagem principal com caráter definido, e dentro desse caráter você pode definir suas decisões e moldar a história pensando em como o personagem  agiria naquela situação. Geralt por exemplo, é um Witcher, portanto passou por uma série de procedimentos ainda criança que, teoricamente, reduziram sua capacidade de lidar com sentimentos. Mas o que vemos é que Geralt tem sentimentos e emoções bem definidos, porém é cínico e ácido com a maioria das situações. E embora não seja mais considerado humano pelo restante da sociedade, por ser tecnicamente um mutante, ele é mais humano que a maioria das pessoas que habitam o Continente. Pelo seu ofício Geralt sofreu muito preconceito principalmente dos humanos, raça dominante desse mundo, e que também hostilizam Elfos e Anões. Ao meu ver essas são coisas que facilitam muito em você querer prosseguir com a história e querer ver as reações de Geralt nas mais variadas situações. Essas reações passam a ser suas também, pois com a progressão do game você passa a pensar como o Witcher.

Como o próprio nome já diz, o RPG (Role Playing Game – Jogo de Interpretação de Personagem) exige que você se sinta parte daquele mundo, que faça as decisões e que essas pesem para você, assim como (guardadas as devidas proporções é claro) as decisões que tomamos na vida. É interessante que nesses games as vezes até nos arrependemos das decisões que tomamos conforme a progressão do game. É pra isso que existem os save, que nos permitem voltar no tempo do jogo para fazer as coisas de forma diferente. É claro que todos nós sempre quisemos em algum momento que a vida tivesse save games, voltar e tomar decisões diferentes não é? Infelizmente isso não é possível. No meu caso, me arrependi de algumas decisões que tomei durante The Witcher 3, mas não voltei o save pra fazer diferente. Senti que isso quebraria a imersão. Senti que por piores que pudessem parecer os resultados, aqueles eram frutos das decisões que o meu personagem tinha tomado, e ele devia lidar com elas. E em The Witcher 3 se aprende uma lição muito importante. Dentre seus 36 finais diferentes, se você quiser fazer bons finais, tem que saber tomar decisões. Geralt pode ser meio dificil e turrão, mas ele é bom. Não é um babaca. Se você manter isso em mente, independente das inúmeras variáveis, o final será bom!

Enfim, poderia ficar aqui falando e falando sobre The Witcher 3, pois tem muita coisa pra falar, mas paro por aqui pois, se você tiver um PS4, Xbox ONE ou um PC (um parrudo pra rodar esse game), jogue The Witcher 3. Tenha em mente que não é um game para crianças, pelo contrário, ele tem elementos que todas as fantasias medievais da atualidade tem. Mas tenha em mente que o foco é a história, as decisões morais e a progressão dos personagens. Além é claro da diversão que a jogabilidade proporciona.

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Pra mim The Witcher 3 é 10/10, impecável, como poucos outros games que já joguei.

Adriano Toledo
Detentor do título de o mais nerd deste site... (Não tão) Profundo conhecedor de Quadrinhos, Games, Cinema, Literatura Fantástica e outras loucuras....
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