Cinegoga#19 – Breaking Bad: Drogado pelo ego

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Walter White é um professor de química que trabalha em uma escola secundária no Novo México. Para atender às necessidades de Skyler, sua esposa grávida, e Walt Junior, seu filho deficiente físico, ele tem ainda um segundo emprego numa lavadora de carros. Sua vida que já não é fácil, fica ainda mais complicada quando é diagnosticado com câncer no estágio 3, com uma expectativa de apenas mais 2 anos de vida.

Ciente de que não tem mais nada a perder, ele se torna determinado a garantir que sua família terá um futuro seguro, e embarca em uma carreira de drogas e crimes. A partir desse momento, vemos um homem antes inseguro, se sair muito bem e com muita proficiência neste novo mundo, à medida que começa a fabricar e vender meta-anfetamina com um de seus ex-estudantes.

Essa é a série Breaking Bad, recordista com a maior nota já atribuída a um episódio, que mostra de forma brilhante, tanto em técnica como em roteiro, o impacto de um diagnóstico fatal em um homem regular e trabalhador e explora como essa notícia afeta sua moralidade e o transforma em um dos maiores negociantes de drogas do estado.

Apesar de ser uma série recheada de prêmios, além de entrar para a história como uma das melhores produções da televisão, ela não deixa de promover polêmica e olhares tortos, justamente por sua temática ousada e diferente. Muitos a rechaçam imediatamente, alegando que Breaking Bad é uma série que faz apologia às drogas. Isso não poderia estar mais longe da verdade.

Para entendermos isso, precisamos antes compreender o que é apologia. Ao contrário do entendimento de muitos, o ato de fazer uma apologia a algo, não implica simplesmente em mostra-lo ou descrevê-lo. Apologia vai mais além. Significa defender o lado favorável, seja de uma ideia ou de um objeto ou ação. Significa louvá-lo e muitas vezes destacar apenas seus lados positivos, enquanto se esconde as desvantagens.

Se aplicarmos o conceito de apologia ao simples ato de descrever algo, poderíamos afirmar, por exemplo, que a Bíblia é uma apologia ao assassinato, adultério, mentira, e pecado em geral. Mas nós sabemos que isso não é verdade, porque a Bíblia descreve esses pontos de forma ampla e transparente, mostrando as consequências desses atos.

É precisamente isso que observamos na série. Walter consegue juntar muito, mas muito dinheiro em pouco tempo, mas longe de conseguir uma vida boa e assegurar um futuro promissor para sua família, o que vemos é a degradação de seu caráter, a destruição de sua família e o afastamento de todos os seus relacionamentos. Ao fim da série em 2013, vemos um personagem pior do que nunca. Não apenas sua saúde se foi, como qualquer traço de virtude que ele possuía antes.

Inclusive o nome original Breaking Bad, sem uma tradução literal para o português, significa algo como indo de mal a pior. É justamente isso que vemos. Pior do que o câncer que o está matando, vemos a ganância e a maldade corroendo Walter cada vez mais, até que não lhe sobre nada, e a família que ele tanto queria proteger, é desfigurada, desmontada e deixada em pedaços.

Não, Breaking Bad não é uma apologia às drogas, e mesmo mostrando o efeito das drogas nas pessoas que as usam, a série também não é simplesmente uma apologia contra as drogas. Ela vai mais além, é uma placa de aviso, alertando a nós, telespectadores, que a ganância e depravação humana não têm limites quando o ego determina nossas ações.

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Leonardo Agrelos
Se acha um host, mas não sabe houstear. Se acha um podcaster, mas tem a linguá presa. Se acha um nerd, mas nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis. Se acha um escritor, mas sempre procura no Google como se escreve impeachment. Entre tantos achismos uma certeza, a de que tem que melhorar como pessoa para parecer menos com um babaca.
http://pupilasembrasas.com.br
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