Dia desses vi que o Renato Aragão havia sofrido um infarto. Logo em seguida a Record fez uma homenagem a ele. Na hora achei que ele tinha morrido. Mas era uma homenagem em vida. Ou na pior das hipóteses, se prepararam. Caso o rapaz (?) morresse, eles já tinham feito a parte deles. Não assisti a homenagem. Mas me passou um filme na cabeça. E me dei conta de que cresci com esse cara na minha vida. Assistia os programas todo domingo. Lia os gibis. Ia ao cinema ver os filmes. Mas desde que o Antônio Carlos Mussum e o Mauro Zacarias morreram, deixei de acompanhar o Trapalhão Mor. Mentira, ainda acompanhei mais um tempo. Mas não era mais o mesmo. Aí, Dedé sai também. Jorge “Vera Verão” Lafond e Tião “Nojento Tchan” Macalé também já tinha morrido.

Descobri que o Mussum era o mais engraçado deles. Que o Zacarias (embora houvessem mistérios envolvendo sua morte) era o representante do humor mais puro, mais pueril. Que o Dedé fazia as vezes de galã (?) e foi o primeiro vida loka da TV brasileira. Renato ficou inexplicavelmente sem graça após a morte dos companheiros. Depois a parceria com Dedé, foi desfeita (com briga e tudo), o que me lembrou o fim da clássica parceria Jerry Lewis/ Dean Martin.

Depois vieram as acusações de ex-parceiros, como Ted Boy Marino de que foram abandonados por Aragão. De fato, Marino (que fez parte da primeira formação do quarteto), morreu na miséria. Depois, Mussunzinho, filho de Mussum, que era um bebê quando o pai morreu, teria pedido ao comediante, os filmes que o pai havia feito para ter de recordação e não teria nem sido recebido.

Notícias atacando Renato começaram a surgir de todos os lados. Nunca se soube se eram reais ou não. Mas o que sempre me incomodou na história, não eram os filmes ruins que ele fez após o fim do quarteto…mentira, me incomodavam sim…TODOS ELES! Mas o que mais me incomodava era o olhar dele. Façam o teste: pegue os primeiros filmes do Renato, antes do início do quarteto (estão todos no You Tube). O primeiro ele faz sozinho. No segundo e no terceiro ele já tem a companhia de Dedé. Ele tem uma alegria um tanto safada no olhar.

Com o início do quarteto, na TV e nos filmes, você nota no olhar de Renato, que a alegria passa de safada para alegre, moleque. Ele vira um garoto de 12 anos, arteiro. Faça o teste e veja no mesmo You Tube, os vídeos dele no programa de TV. Principalmente os que ele aparece com Mussum. Ele tinha uma alegria que contagiava todos. Hoje, o que vejo em Renato, é alguém que não consegue parar. O olhar é triste. O sorriso, idem. Alguém que segue, mesmo que o corpo as vezes não responda. Um homem que sente não que tem uma missão…mas uma obrigação, de seguir. Mas o olhar diz que ele já parou. Só não sabe ainda.

A parceria com Dedé, foi refeita. Mas Renato não é mais o mesmo. Me parece que seria melhor que ele fizesse como Roberto Gomez Bolaños. Quando viu que estava velho demais para interpretar um menino de rua, resolveu parar. Já tinha passado por 4 perdas de membros do elenco, entre elas seu próprio irmão. Dois dos integrantes estavam em programas próprios. Outro com sérios problemas de saúde. A alegria já não estava mais no olhar. Então, melhor parar e lembrar dos bons tempos. Renato não consegue parar. A alegria foi embora, com os amigos que partiram. Mas ele acha que ela ainda está lá.

Por um lado admiro a perseverança. Fazer humor pueril em meio ao Zorra Total, que apostou na sensualização, ou ao Porta dos Fundos, que apostou no ataque a religião. Mas, este infarto talvez seja apenas o aviso que seu coração está dando: “Hey, psit…vâmo ficar na poltrona…e esperar que um dia esse quarteto se encontre de novo…em tempos onde a alegria será eterna…”